Israel diz que investigação sobre ataque a ambulância que matou 15 médicos não encontrou evidências de execução, mas admite falhas
Em relatório divulgado neste domingo (20), Exército israelense afirmou ainda que não houve tentativa de acobertar as mortes. ONU acusou Israel de atirar contra ambulâncias em Gaza. O Crescente Vermelho Palestino disse que vídeo foi encontrado no telefone de um paramédico que foi morto
Palestian Red Crescent Society
O Exército de Israel afirmou que a investigação conduzida sobre o ataque a uma ambulância em Gaza que matou 15 médicos não encontrou evidências de execução. Em relatório divulgado neste domingo (20), o órgão israelense também admitiu falhas no caso, mas alegou que não houve tentativa de acobertar as mortes.
A ONU denunciou em março as mortes dos 15 profissionais de saúde, que atuavam na Faixa de Gaza, após seus corpos terem sido encontrados em uma vala comum por equipes das Nações Unidas e médicos do Crescente Vermelho Palestino. O Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (UNOCHA) acusou Israel de atirar contra ambulâncias e matar a tiros os paramédicos e socorristas em 23 de março e os enterrar em uma cova rasa. (Leia mais abaixo)
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As Forças de Defesa de Israel (FDI) admitiram o ataque, mas negaram que tenha sido uma ação “aleatória”. Segundo o porta-voz Nadav Shoshani, as tropas abriram fogo contra veículos “sem sirenes ou sinais de emergência” que avançaram de forma suspeita contra os soldados e que havia terroristas no grupo. Dias depois, o Exército israelense admitiu erros no caso.
Segundo o relatório da FDI, houve “diversas falhas profissionais, violações de ordens e uma falha em relatar o incidente de forma completa”.
Ataque a ambulância em Gaza
Veículo da ONU e outros foram enterrados junto a corpos de socorristas em vala comum, na Faixa de Gaza
Jonathan Whittall/UNOCHA
Segundo o chefe da UNOCHA para a Palestina, Jonathan Whittall, os profissionais foram mortos no dia 23 de março após irem até o local para um atendimento médico. Entre os trabalhadores estavam paramédicos do Crescente Vermelho Palestino e socorristas da Defesa Civil.
“Estamos os desenterrando ainda com seus uniformes, com as luvas nas mãos. Eles vieram para salvar vidas. Em vez disso, acabaram em uma vala comum”, afirmou.
A ONU divulgou um vídeo nas redes sociais mostrando os corpos sendo desenterrados. A gravação também mostra veículos sendo retirados em meio aos montes de areia. Segundo Whittall, cinco ambulâncias, além de um veículo da ONU e um caminhão dos bombeiros, foram “esmagados” e “descartados”.
Em um comunicado, o movimento da Cruz Vermelha afirmou que o caso representa o incidente mais mortal contra trabalhadores do Crescente Vermelho em qualquer lugar do mundo desde 2017. O órgão condenou o ataque e afirmou que um trabalhador continua desaparecido.
O secretário-geral da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, Jagan Chapagain, afirmou que os profissionais de saúde estavam devidamente identificados.
“Eles eram [trabalhadores] humanitários. Vestiam emblemas que deveriam protegê-los. Suas ambulâncias estavam claramente identificadas. Eles deveriam ter voltado para suas famílias, mas não voltaram”, disse.
A organização também pediu respeito às regras do Direito Internacional, que determinam que civis e pessoas em serviços humanitários sejam protegidos em zonas de conflito.
Por outro lado, as Forças de Defesa de Israel garantem que a operação resultou na morte de um agente militar do Hamas, além de outros oito terroristas que faziam parte do grupo terrorista e da Jihad Islâmica.
“Não é de se surpreender que os terroristas estejam novamente explorando instalações e equipamentos médicos para suas atividades”, afirmou o porta-voz Nadav Shoshani.
“Quando terroristas agem em uma zona de combate ativa, faremos o que for preciso para proteger nossos civis e tropas”, concluiu o militar israelense.
À rede britânica BBC, a porta-voz da UNOCHA, Olga Cherevko, pediu uma investigação completa para apurar o que realmente aconteceu. Ao ser questionada sobre a presença de terroristas no grupo, ela afirmou que trabalhadores de ajuda humanitária e equipes de emergência não devem ser alvos de ataque.
A ofensiva israelense em Gaza
Hamas e Israel haviam firmado um acordo de cessar-fogo na região de Gaza em janeiro deste ano, dias antes da posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Menos de dois meses depois, entretanto, Israel voltou a bombardear Gaza.
O governo de Israel alegou que os terroristas do Hamas violaram o acordo sobre libertação dos 59 reféns que ainda estão sob poder do grupo — Israel estima que 35 deles estejam mortos.
No dia 26 de março, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ameaçou tomar territórios na Faixa de Gaza se o grupo terrorista não libertar os reféns restantes que ainda mantém.
O ministro israelense também ameaçou “expandir as zonas-tampão ao redor de Gaza para proteger as populações civis” por meio de uma “ocupação israelense permanente” dessas áreas.
A guerra entre Israel e o Hamas começou em outubro de 2023, após o grupo terrorista lançar um ataque contra o território israelense. A ação do Hamas resultou na morte de 1.200 pessoas, além do sequestro de mais de 200.
Como resposta, Israel lançou uma grande operação militar em Gaza, que reduziu cidades a escombros e levou o território a uma grave crise humanitária.
Autoridades do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo grupo terrorista Hamas, estimam que mais de 50.000 palestinos morreram em Gaza em quase 18 meses de conflito.