Atende News

Você Informado Sempre!

Variedades

Tema dos abusos sexuais na Igreja já paira sobre papa Leão XIV

ONGs afirmam que Robert Prevost teria acobertado membros da Igreja Católica suspeitos de crimes sexuais. Bispos que trabalharam com o atual papa afirmam, no entanto, que ele sempre se preocupou em ouvir todas as partes envolvidas. Papa Leão XIV na quinta-feira, ao aparecer pela primeira vez na sacada da Basílica de São Pedro
Yara Nardi/File Photo/Reuters
Um dos principais desafios do papa Leão XIV é continuar a luta contra as agressões sexuais na Igreja iniciada por Francisco, mas seu histórico ambivalente no Peru gera preocupação entre ONGs de defesa das vítimas.
Robert Francis Prevost, de 69 anos, tornou-se o 267º papa na quinta-feira (8), após uma longa trajetória no Peru, onde precisou enfrentar esses escândalos que abalam há anos a Igreja Católica. Pouco depois de sua eleição, a Conferência Episcopal Peruana destacou em uma coletiva de imprensa que o sucessor de Francisco “abriu caminho” para a defesa de vítimas de agressões no Peru.
Mas as ONGs SNAP e Bishop Accountability emitiram declarações nas quais questionam o compromisso do papa com a quebra do regime de sigilo.
“O papa Leão XIV transformará a luta contra abusos e encobrimentos em prioridade?”, pergunta em um comunicado Anne Barrett Doyle, codiretora da Bishop Accountability.
As preocupações remontam ao período em que Leão XIV era bispo de Chiclayo, no norte do Peru, entre 2013 e 2025.
“Ele não publicou o nome de nenhum” dos culpados, acrescentou Barrett Doyle.
A Rede de Sobreviventes de Abuso Sexual por Sacerdotes (SNAP, na sigla em inglês) lembrou que, durante aquele período, três vítimas relataram suas acusações à diocese, em vão, e acabaram por denunciá-las às autoridades civis em 2022.
Segundo a ONG, Prevost “não abriu uma investigação” e “enviou informações inadequadas para Roma”, de forma que “a diocese permitiu que o sacerdote [denunciado] continuasse celebrando missas”.
Anteriormente, como chefe dos agostinianos em Chicago, permitiu que um sacerdote acusado de agredir sexualmente menores vivesse em um convento agostiniano perto de uma escola da cidade no ano 2000, acrescentou.
Essas ONGs também questionam sua atuação à frente do Dicastério para os Bispos, cargo ao qual foi nomeado por Francisco em 2023 em substituição do canadense Marc Ouellet, acusado de agredir sexualmente uma mulher.
Como prefeito deste dicastério, Prevost deveria supervisionar os casos apresentados contra bispos acusados de abusos sexuais e de encobrimento.
“Ele manteve o segredo desse processo” e “sob sua supervisão, nenhum bispo cúmplice foi despojado de seu título”, lamentou a Bishop Accountability.
Um ‘esperançoso’ precedente
O sucessor do novo pontífice na diocese de Chiclayo, o bispo Edison Farfán, refutou a polêmica que tenta de “desacreditar” Prevost.
“Isso é mentira, ele ouviu [as partes] e respeitou os procedimentos”, afirmou o bispo peruano aos jornalistas.
Farfán afirmou que seu antecessor investigou o sacerdote acusado por três vítimas na diocese peruana e que o procedimento ainda está em curso.
“No processo canônico, é preciso ir até o final, respeitando os procedimentos”, explicou, ao acrescentar que “isso não acontece da noite para o dia”.
Ademais, o sacerdote “foi enviado imediatamente para casa”, acrescentou à AFP Fidel Purisaca, diretor de comunicações da diocese.
A Bishop Accountability reconhece ações positivas do novo papa, como a denúncia das agressões e da corrupção no Sodalício de Vida Cristã (também conhecido por seu nome em latim Sodalitium Christianae Vitae, SCV), uma congregação ultraconservadora de laicos e sacerdotes de origem peruana.
Depois de sete anos de investigações, o papa Francisco ordenou este ano a dissolução do Sodalício.
A própria congregação reconheceu que os membros da cúpula abusaram sexualmente de 19 menores e dez adultos entre 1975 e 2002.
Pedro Salinas, uma das vítimas, assegurou que Prevost desempenhou “um papel extremamente importante” para a dissolução do SCV, destaca Barrett Doyle, sobre um precedente “esperançoso”.
Em janeiro, o ainda cardeal Prevost também recebeu no Vaticano José Enrique Escardó, uma das primeiras vítimas que denunciou os abusos do Sodalício.
Apelo por ações
O papa Francisco lançou muitas medidas para lutar contra o abuso sexual de menores na Igreja, como a suspensão do segredo pontifício e a obrigação de denunciar os casos à hierarquia.
Mas as associações de vítimas se mostraram decepcionadas com sua linha de ação. Seu sucessor herda agora essa questão, um dos maiores desafios para a Igreja.
Muitos países asiáticos e africanos consideram esse problema como um tabu. E, na Europa, a Itália não iniciou uma investigação independente dos casos.
A SNAP instou Leão XIV a “tomar medidas decisivas nos primeiros 100 dias” de pontificado contra os abusos sexuais, entre elas uma lei universal de tolerância zero no direito canônico e um fundo de reparação.
“Nós rejeitamos o acobertamento e o segredo, isso faz muito mal, pois temos que ajudar as pessoas que sofreram por más ações”, declarou o hoje papa ao jornal peruano La República em uma entrevista de junho de 2019.
Conheça cidade onde Papa Leão XIV nasceu, nos EUA

LEAVE A RESPONSE

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *