Em Paris, Lula faz pedido público a Macron: ‘Abra seu coração para o acordo com o Mercosul’
Brasileiro passa a semana na França, onde deve visitar a sede da Interpol em Lyon. Lula também participa de conferência sobre oceanos, já como preparação para a COP 30 em Belém. Lula faz pedido público a Macron: ‘Abra seu coração para o acordo com o Mercosul’
O presidente Lula falou à imprensa nesta quinta-feira (5), em Paris, após se reunir com o presidente da França, Emmanuel Macron.
Ao abrir o discurso, Lula afirmou que Macron o recebeu “com a hospitalidade que somente um grande amigo pode oferecer”.
Ao mesmo tempo, cobrou publicamente o apoio da França ao acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Os franceses vêm adotando uma postura protecionista para resguardar seus produtores rurais, o que tem atrasado a implementação do acordo.
“Eu assumirei a presidência do Mercosul no próximo dia 6. Eu quero lhe comunicar que não deixaria a presidência do mercosul sem concluir o acordo com a União Europeia. Portanto, meu caro, abra o seu coração para a possibilidade de fazer esse acordo com o nosso querido Mercosul”, disse.
“Esta é a melhor resposta que nossas regiões podem diante do cenário de incertezas criado pelo retorno do unilateralismo e protecionismo tarifário”, adicionou.
‘A França deveria ter orgulho de dizer que a maior fronteira dela é no território amazônico’, diz Lula
Ao longo do discurso, Lula exaltou as parcerias de Brasil e França em temas como a proteção ambiental e a produção de aeronaves e submarinos.
“Como vizinhos que compartilham extensa fronteira amazônica, apostamos nos benefícios da integração. É importante, presidente Macron, que o povo francês saiba que a maior fronteira da França com qualquer outro país não se dá na Europa, se dá com a América do Sul e com o Brasil. A França deveria ter orgulho de dizer que a maior fronteira dela é no território amazônico”, disse Lula.
O brasileiro também citou os esforços conjuntos Brasil-França na produção de helicópteros – que, segundo Lula, podem reforçar a atuação das polícias no combate ao crime organizado.
Presidentes Lula e Emmanuel Macron durante declaração à imprensa em Paris
TV Globo/Reprodução
“Estamos discutindo uma nova encomenda de aeronaves, porque o governo brasileiro precisa combater de forma muito eficaz o narcotráfico. Precisa combater com mais eficácia o garimpo ilegal, os madeireiros ilegais e tudo que for ilícito no nosso país. Um território como o Brasil, que tem as florestas que nós temos, não pode se dar ao luxo de não ter os helicópteros necessários para que a gente faça o nosso trabalho bem feito”, emendou.
Lula afirmou que os dados da balança comercial atual mostram que Brasil e França regrediram em relação ao patamar de trocas registrado em 2012 – data da última visita de um presidente brasileiro (Dilma Rousseff, à época) à França.
“Não é possível que os valores registrados em 2024, 9 bilhões de dólares, sejam inferiores aos registrados em 2012. Significa que, no comércio, demos um passo atrás e é preciso agora dar dois passos à frente, como se estivesse dançando um bom bolero latino-americano”, disse.
No discurso, Lula também retomou temas que vêm marcando sua participação em fóruns multilaterais e em visitas oficiais de Estado – como o pedido de maiores aportes dos países ricos para financiar ações contra as mudanças climáticas, a crítica às guerras em Gaza e na Ucrânia e a defesa de uma reforma da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Não é possível destruir coisas que foram construídas com muita força depois da Segunda Guerra Mundial e tentar voltar ao protecionismo, ao unilateralismo e à fraqueza da democracia que estamos vivendo hoje no mundo. É impressionante o crescimento do negacionismo, do radicalismo de extrema-direita”, disse.
A agenda de Lula na França também inclui uma reunião com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e um encontro com a comunidade brasileira.
Durante a visita à França, o presidente ainda participará da Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, em Nice, e visitará a Interpol em Lyon. A Interpol atualmente é comandada pelo brasileiro Valdecy Urquiza, delegado da Polícia Federal.
“A organização é chave nos esforços multilaterais para o enfrentamento a ilícitos transnacionais, em especial o narcotráfico e a exploração de crianças e adolescentes”, disse Lula.
Macron cita Amazônia, guerras e Haiti
Macron destacou que a crise climática preocupa – e reafirmou que estará em Belém para a COP 30.
Segundo o presidente francês, antes da conferência, é possível reunir líderes africanos para tentar alinhar posições que serão apresentadas na COP.
Macron lembrou que a França também tem território coberto pela Floresta Amazônica (Guiana Francesa) e falou sobre a importância de preservar esse ecossistema.
O presidente francês ainda citou que discutiu com Lula crises pelo mundo, como a guerra na Ucrânia, no Oriente médio e a situação do Haiti.
Macron também defendeu intensificar a relação comercial entre Brasil e França. “Temos uma relação que queremos intensificar mais ainda”, disse.