Presidente amplia confronto com estado democrata que resiste a cumprir a sua agenda anti-imigração. Fogo em carro durante protestos em Los Angeles
AP Photo/Eric Thayer
O presidente Donald Trump atropelou o governador da Califórnia, Gavin Newsom, ao assinar uma ordem que mobiliza dois mil soldados da Guarda Nacional no estado para reprimir os protestos de manifestantes contra as batidas policiais em locais de trabalho, realizadas por agentes de imigração.
Alvo frequente do presidente, o democrata Newsom definiu como inflamatória a sua decisão de federalizar a Guarda Nacional, tomada sem que ele tenha solicitado a assistência do governo.
“A ordem foi motivada não pela escassez de agentes da lei, mas porque Trump quer um espetáculo. Não deem um motivo a ele. Fiquem calmos e pacíficos”, apelou o governador. Pelo terceiro dia, os confrontos e as prisões, tanto de manifestantes quanto de imigrantes, se multiplicam em Los Angeles.
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Os dois mil soldados convocados pelo governo federal representam o dobro do número designado pelas autoridades locais em 2020 para conter os protestos na cidade, após o assassinato de George Floyd, no primeiro mandato de Trump.
Em 1992, o governo também transferiu o controle da Guarda Nacional para o âmbito federal, durante os violentos confrontos ocorridos após o espancamento de Rodney King pela polícia de Los Angeles. O presidente era George H.W. Bush, que atendeu ao pedido do governador da Califórnia, Pete Wilson.
Desta vez é diferente. Sem o consentimento do governador, o presidente interfere de forma autoritária na gestão das autoridades estaduais, visando ao estado comandado por um adversário político. Ele invocou um artigo do código dos EUA, que permite ao presidente assumir a autoridade de um governador sobre a Guarda Nacional e federalizar as tropas, se achar necessário, para repelir uma invasão ou reprimir uma rebelião.
“Se o governador Gavin Newscum, da Califórnia, e a prefeita Karen Bass, de Los Angeles, não puderem fazer o seu trabalho, então o governo federal intervirá e resolverá o problema”, justificou Trump na sua rede social, referindo-se, mais uma vez, a Newsom por um trocadilho que significa “nova escória”.
O governador democrata alegou que a polícia estadual tinha a situação sob controle até Trump intervir e sugeriu que a violência dos protestos foi patrocinada por ele. O entorno do presidente, por sua vez, endossou o envio de tropas para as ruas, deixando claro que a meta é seguir adiante. O vice-presidente JD Vance chamou os manifestantes de Los Angeles de insurrecionistas.
Vale lembrar que em 6 de janeiro de 2021, quando simpatizantes de Trump — estes sim insurrecionistas — invadiram e depredaram o Capitólio para protestar contra a certificação de Joe Biden, o presidente relutou o quanto pôde a mobilizar a Guarda Nacional.
O secretário de Defesa, Pete Hegseth, cogitou estender a medida de Trump ao envio de fuzileiros navais para conter os protestos. Sem descartar o governador e a prefeita de Los Angeles, o czar da fronteira, Tom Homan, amplificou as ameaças: avisou que autoridades da Califórnia poderão ser presas, se atrapalharem a operação federal em Los Angeles.
No seu entender, Newson e Bass fazem de Los Angeles um santuário para criminosos por se recusarem a cooperar com os agentes de imigração.
“É crime abrigar e ocultar conscientemente um estrangeiro ilegal. É crime impedir que as autoridades policiais façam seu trabalho”, assegurou o czar. Newsom desafiou Homan no X: “Venha me pegar, valentão. Eu não dou a mínima. Isso não vai me impedir de defender a Califórnia.”
Neste segundo mandato, Trump solta as amarras que o impediram em seu governo anterior de implementar o lema da lei e da ordem e de usar a força militar para reprimir protestos ou caçar imigrantes sem documentos, conforme prometeu insistentemente em sua campanha. A oportunidade para um confronto direto do presidente com seus rivais políticos finalmente surgiu.
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